Chapter 69: One. Only. Bed.
O corredor da estalagem era estreito e rangia sob seus passos. O estalajadeiro, com a lanterna na mão, abriu a porta de um quarto no fundo, desejando-lhes boa noite antes de partir.
A porta fechou com um clique suave, abafando o barulho da vila lá fora.
O quarto não era grande. Paredes simples de madeira, uma pequena lareira crepitando no canto e um tapete surrado espalhado pelo chão. Mas o que imediatamente chamou a atenção de Ester foi o centro do quarto: uma cama de solteiro, larga, coberta com peles grossas.
Por um momento, seu peito apertou. Uma parte dela — por menor que fosse, por mais tola que fosse — ainda acreditava que haveria duas camas. Seria o suficiente para dormirem tranquilamente, cada um do seu lado, sem problemas. Mas não... ali estava a confirmação cruel. Uma. Única. Cama.
Ela ficou parada na porta, como se o chão tivesse se transformado em gelo quebradiço sob seus pés.
Damon entrou primeiro, deixando sua lança encostada na parede e sua capa cair sobre uma cadeira. Ele parecia à vontade, como se a situação não fosse nada incomum.
"Hm." Ele se jogou na beirada da cama, pressionando a palma da mão contra o colchão. "Olha só... é muito macio. Melhor do que dormir na neve, não é?"
Seu sorriso era preguiçoso, quase travesso.
Ester não respondeu. Seus olhos estavam fixos na cama, como se fosse um campo de batalha no qual ela não queria pisar. Seu corpo inteiro estava rígido, e o rubor que ela tanto odiava ameaçava ressurgir.
Damon percebeu. E isso só fez seu sorriso se alargar.
"O que foi?", perguntou ele, inclinando a cabeça, num tom debochado. "Você vai ficar aí a noite toda?"
Ela respirou fundo, tentando manter um tom de voz calmo.
"Isso... não é apropriado."
"Apropriado?" Damon riu, uma risada curta. "Desde quando você se preocupa com esse tipo de coisa?"
Ela cerrou os dedos contra a capa, como se pudesse se agarrar a alguma formalidade que a salvaria.
"Não se trata de mim..." ela começou, mas sua voz falhou.
Ele então se levantou lentamente, aproximando-se. O sorriso não desaparecia. Damon caminhou em sua direção e, por um momento, Ester considerou recuar, mas suas pernas não se moveram.
Quando ele parou na frente dela, seus olhos a encararam como se lessem cada pensamento que ela tentava esconder.
"Você está congelada", disse ele suavemente. "Mas não por causa do frio."
Ester sentiu o coração disparar.
"Pare de falar bobagens", ela retrucou, mas o rubor em sua pele desmentia cada palavra.
Damon não respondeu imediatamente. Simplesmente pegou a mão dela. O gesto foi simples, mas firme, caloroso demais. Os olhos dela se arregalaram de surpresa.
"O que você pensa que está—"
Ele não terminou. Com um movimento rápido, puxou-a para frente, desequilibrando-a. O corpo de Ester caiu contra o dele e, antes que ela pudesse reagir, Damon a puxou para a cama.
[Toque de Asmodeus foi usado!]
Ela caiu de lado, sua capa se espalhando sobre as peles da cama, seu coração martelando em seu peito.
"Damon!" Sua voz saiu mais alta do que o pretendido, quase um grito, mas soou mais envergonhada do que irritada.
Ele apenas riu, recostando-se no travesseiro, ainda segurando a mão dela.
"Relaxa", disse ele, com um brilho de diversão nos olhos. "Eu não vou morder. Pelo menos... não se você não pedir."
Ester congelou ainda mais, sentindo um rubor percorrer suas bochechas. Ela tentou puxar a mão, mas ele a segurou com firmeza, não com brutalidade, mas com uma certeza irritante que a desarmou.
"Você é insuportável", ela disse, mas sua voz vacilou.
"E ainda assim você está aqui", respondeu Damon, com um sorriso irônico.
O silêncio que se seguiu foi pesado. A lareira crepitava ao fundo, enchendo o ar de calor, mas para Ester o mundo parecia estreito demais, como se o cômodo inteiro tivesse encolhido ao redor delas.
Ela virou o rosto para o lado, tentando se recompor, mas seu corpo permaneceu tenso, cada fibra consciente da proximidade dele.
Damon a observava em silêncio agora, menos zombeteiro, mais atento.
"Sabe…" ele começou, com a voz mais baixa, quase séria. "Você vive como se fosse feito de gelo. Mas… quando alguém te toca, você se quebra."
As palavras atingiram Ester como lâminas. Ela engoliu em seco, sem ousar olhá-lo nos olhos.
"Você está errado", ela murmurou fracamente.
"Sou mesmo?" Damon se inclinou levemente, aproximando o rosto, seu hálito quente contrastando com o frio que sempre emanava dela. "Então me prove."
Ela se virou de repente, encarando-o com seus brilhantes olhos azuis. Mas, em vez de responder, ficou sem palavras.
Seu olhar não era apenas zombeteiro. Havia algo firme, dominador, quase... perigoso.
Ester não sabia se odiava ou... tinha medo.
Talvez ambos.
A mão dela ainda estava presa na dele, e o calor daquele simples contato pareceu derreter algo que ela não queria admitir que existia dentro dela.
"Você... não sabe o que está fazendo", ela sussurrou, quase implorando.
Damon sorriu novamente, mas desta vez não era debochado. Era um sorriso calmo e confiante.
"Eu sei exatamente o que estou fazendo", respondeu ele. "Estou mostrando que você não precisa se esconder atrás de tanto gelo."
Seu coração disparou ainda mais. Uma parte dela queria se libertar, se levantar, sair dali. Mas outra parte... permaneceu imóvel, aprisionada não pela força dele, mas pela confusão que se formava em sua mente.
Ester fechou os olhos por um instante, tentando se recompor. Quando os abriu novamente, o rubor já havia se espalhado por seu rosto.
Damon finalmente soltou a mão dela, como se a estivesse testando.
"Você pode se deitar no chão se quiser", disse ele, com um toque de ironia. "Mas eu vou aproveitar esta cama macia."
Ele ficou deitado de lado, de frente para a lareira, como se a conversa tivesse terminado.
Ester, porém, permaneceu sentada na beira da cama, imóvel, com o olhar perdido.
Seu corpo ainda tremia levemente — não de frio, mas pela lembrança do toque, da proximidade, do abraço anterior que insistia em atormentá-la.
Ela respirou fundo, buscando consolo.
"É só uma cama", pensou ela, tentando se convencer. "Só uma cama."
"Eu usei o Toque de Asmodeus nela mais de seis vezes... quanto tempo vai levar... Bem, vamos esperar... Não preciso fazer nada, ela vai desistir."